1. Leia o texto.
Histórias para o rei
Nunca podia imaginar que fosse tão agradável a função de contar histórias, para a qual fui nomeado por decreto do Rei. A nomeação colheu-me de surpresa, pois jamais exercitara dotes de imaginação, e até me exprimo com certa dificuldade verbal. Mas bastou que o Rei confiasse em mim para que as histórias me jorrassem da boca à maneira de água corrente. Nem carecia inventá-las. Inventavam-se a si mesmas.
Este prazer durou seis meses. Um dia, a Rainha foi falar ao Rei que eu estava exagerando. Contava tantas histórias que não havia tempo para apreciá-las, e mesmo para ouvi-las. O Rei, que julgava minha facúndia uma qualidade, passou a considerá-la defeito, e ordenou que eu só contasse meia história por dia, e descansasse aos domingos. Fiquei triste, pois não sabia inventar meia história. Minha insuficiência desagradou, e fui substituído por um mudo, que narra por meio de sinais, e arranca os maiores aplausos.
Carlos Drummond de Andrade. A cor de cada um. 13. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997. p. 28-29.
Glossário
Carecer: ter necessidade de; precisar de.
Facúndia: eloquência, facilidade para discursar.
Jorrar: brotar.
a) Por que o narrador acreditava não ter habilidades para contar histórias?
b) Que fato fez o narrador descobrir sua habilidade?
c) O que significa dizer que as histórias jorravam da boca à maneira de água corrente?
2. Releia.
"O rei, que julgava minha facúndia uma qualidade [...]"
a) Qual é o sujeito do verbo julgar nessa frase?
b) Qual é o complemento do verbo julgar?
c) A que termo da frase está ligada a expressão "uma qualidade"?
d) Qual a função sintática exercida pela expressão "uma qualidade"?