3 de novembro de 2016

Interpretação do poema Carta a Stalingrado - Drummond

Este poema, de A rosa do povo, é representativo da segunda fase da poesia drummondiana e remete a um episódio da Segunda Guerra Mundial.


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Carta a Stalingrado 

Stalingrado... 
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas 
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, 
e o hálito selvagem da liberdade 
dilata os seus peitos, Stalingrado, 
seus peitos que estalam e caem 
enquanto outros, vingadores, se elevam. 

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais. 
Os telegramas de Moscou repetem Homero. 
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo 
que nós na escuridão, ignorávamos. 
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída, 
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas, 
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, 
na tua fria vontade de resistir. 

Saber que resistes. 
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes. 
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome 
(em ouro oculto) estará firme no alto da página. 

Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena. 
Saber que vigias, Stalingrado, 
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes 
dá um enorme alento à alma desesperada 
e ao coração que duvida. 

[...] 
As cidades podem vencer, Stalingrado! 
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga. 

Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo. 
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres, 
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem. 

ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 1991. p. 163-165.

VOCABULÁRIO DE APOIO 

arquejo: respiração difícil
calcinado: transformado em cinzas 
telegrama: comunicado transmitido por um telégrafo (meio de comunicação mais rápido durante a Segunda Guerra Mundial) 
Volga: maior rio da Europa, que atravessa a cidade de Stalingrado (atual Volgogrado) 


QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO

1. Nesse poema, o eu lírico dirige-se à cidade de Stalingrado. Qual é o efeito expressivo de ela ser tomada como interlocutora? 

2. Homero foi um célebre poeta grego ao qual é atribuída a autoria dos poemas épicos Ilíada e Odisseia, obras que narram feitos de grandes heróis da mitologia grega. Considerando essa informação, que aspecto permite associar os telegramas que chegam da Rússia aos poemas homéricos? 

3. Leia novamente o final do poema. 

a) A resistência da cidade de Stalingrado torna-se um símbolo nesse poema. O que ela simboliza? Comprove sua resposta citando outro trecho do poema. 

b) O trecho final sugere que, apesar de toda a destruição e sofrimento, o eu lírico consegue enxergar um sentido para a guerra. Qual seria esse sentido? 

4. Críticos afirmam que este e outros poemas com tema histórico quase falharam na manutenção de sua condição de poesia. Que elementos do texto podem ter motivado tal crítica? 

A Batalha de Stalingrado 

A Batalha de Stalingrado contribuiu para a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial. Em 1942, uma ofensiva alemã sobre a cidade, localizada na antiga União Soviética, foi contida pelas forças russas, que impediram a continuidade da expansão da Alemanha nazista e iniciaram a contraofensiva. A resistência russa durou quase seis meses. Calcula-se que o número de mortos tenha superado 1,5 milhão. 

GABARITO