Exercícios sobre A ronda noturna - Olavo Bilac


A ronda noturna 

Noite cerrada, tormentosa, escura, 
Lá fora. Dorme em trevas o convento. 
Queda imoto o arvoredo. Não fulgura 
Uma estrela no torvo firmamento. 

Dentro é tudo mudez. Flébil murmura, 
De espaço a espaço, entanto, a voz do vento: 
E há um rasgar de sudários pela altura, 
Passo de espectros pelo pavimento... 

Mas, de súbito, os gonzos das pesadas 
Portas rangem... Ecoa surdamente 
Leve rumor de vozes abafadas. 

E, ao clarão de uma lâmpada tremente, 
Do claustro sob as tácitas arcadas 
Passa a ronda noturna, lentamente... 

BILAC, Olavo. In: CANDIDO, Antonio. Presença da literatura brasileira. São Paulo: Difusão Europeia do Livro, 1972. v. 2.
1. Complete a frase: "A ronda noturna" é um poema que ______________________.

a) conta uma história de terror.
b) apenas descreve um ambiente.
c) defende um ponto de vista. 
d) expõe um sentimento. 
e) apresenta narração e descrição. 

2. A resposta à questão anterior pode ser justificada por uma das seguintes afirmações sobre o poema. Escolha uma alternativa.

a) Trata-se apenas da descrição impessoal, distanciada, da atmosfera que envolve um convento. 
b) Trata-se de uma tentativa de convencer os leitores de que o eu lírico viu fantasmas percorrendo os corredores de um convento. 
c) Trata-se da expressão emocionada e pessoal de um eu lírico fascinado pela visão noturna de um convento. 
d) Trata-se de um poema narrativo em que predomina a descrição pouco pessoal do entorno e da atmosfera noturna de um convento, seguida de um evento que quebra parte do silêncio que envolve o local. 

3.  Nas duas primeiras estrofes é descrito o clima que circunda o convento. Note que em cada uma delas predomina um aspecto. 

a) Na primeira estrofe, o que circunda o convento? Que palavras ou expressões do texto justificam sua resposta?

b) Na segunda estrofe, o que envolve o convento? Que expressões do texto justificam sua resposta? 

c) Releia todo o poema e observe que a escolha do vocabulário e sua organização nos versos produzem uma sonoridade coerente com o clima da cena descrita. Considere que determinados sons podem ser associados ao significado das próprias palavras em que eles se repetem. Depois, copie as frases a seguir e completa-as com as informações corretas, constantes em (1), (2) e (3). 

* A ocorrência da consoante v nos três últimos versos da primeira estrofe e no segundo e terceiro versos da segunda estrofe ____
* A ocorrência da consoante r em praticamente todos os versos ____
* A grande ocorrência da vogal u e o predomínio da vogal o em quase todos os versos do poema ____

(1) pode sugerir um rumor que permeia todo o poema. 
(2) pode sugerir o som do vento. 
(3) podem reforçar a ideia de escuridão e som murmurado, fechado, que ecoa pouco. 

4. Releia: 

"Dentro é tudo mudez. Flébil murmura, 
De espaço a espaço, entanto, a voz do vento: 
E há um rasgar de sudários pela altura, 
Passo de espectros pelo pavimento... " 

Esses versos sugerem som (voz do vento, passo) e movimento (rasgar, espaço, passo). No entanto, por que numa primeira leitura eles apenas reforçam a ausência de vida? 

5. Há perfeita oposição entre elementos das duas primeiras estrofes e elementos das duas últimas: a escuridão, a imobilidade e o silêncio murmurado que, nas primeiras estrofes, envolvem o convento são quebrados por eventos que ocorrem nas duas últimas. Estabeleça a correspondência. 

a) a que quebra o silêncio? 
b) a que quebra a escuridão? 
c) a que quebra a imobilidade? 

6. Selecione a afirmação (ões) que poderia(m) completar corretamente a frase a seguir. 

O poema" A ronda noturna" ______________

a) trata do medo da morte, representada pela angústia do eu lírico com relação à atmosfera sombria e fantasmagórica do convento. 
b) pode ser visto como metáfora da presença vigilante da vida, mesmo em situações em que parece haver o predomínio de um cenário de morte. 
c) procura surpreender ao mostrar luz e movimento suaves em um cenário de escuridão e imobilidade pesadas. 
d) trata da oposição noite e dia. Assim, as duas primeiras estrofes representam o dia e as duas últimas, a noite. 

Gabarito

Professor, peça a três ou quatro alunos que preparem a leitura, em voz Olavo Bilac alta, do texto. Após a atividade de interpretação, solicite a todos que o leiam novamente. O objetivo é fazer com que os alunos se sensibilizem cada vez mais com os detalhes da construção do poema. 

1. Alternativa e.

2. Alternativa d.

3.
a) A escuridão circunda o convento: noite, cerrada, escura, trevas, não fulgura, torvo.
b) O silêncio, quebrado apenas pelos ruídos do vento: mudez, murmura, voz do vento. 
c) 2 - 1 -3

4. Porque se trata, a princípio, apenas do som do vento e do movimento vindo de coisas sem vida - sudários e espectros (fantasmas). Professor, chame a atenção dos alunos para essa imagem construída no centro do soneto. Talvez se trate do movimento do tecido provocado pelo vento (uma mortalha, uma reprodução do próprio sudário de Cristo), lembrando movimentos de fantasmas. Comente com os alunos o caráter de transição desses versos: numa primeira leitura, eles apenas reforçam a ausência de vida porque, quando ainda não se conhece o poema todo, em que há movimento, som e luz, fica difícil notar, nesses três versos, a ligeira antecipação da mudança que vai ocorrer nos versos seguintes. 

5. 
a) O ranger das dobradiças da porta e o rumor de vozes abafadas.
b) O clarão de uma lâmpada tremente. Professor, chame a atenção dos alunos para a retomada do movimento já na luz, que não é fraca (clarão) e é tremente. 
c) O movimento da porta e, sobretudo, a passagem da ronda noturna. Professor, comente com os alunos que o som dos dois primeiros versos da terceira estrofe ecoa como o ranger das portas, e que essa sensação é sugerida sobretudo pela combinação dos sons /g/, /z/ e /p/ em "[...] os gonzos das pesadas / Portas rangem... [...]" 

6. Alternativas b e c.