6 de outubro de 2016

Exercícios sobre Simbolismo em Portugal


Em Portugal, a obra Oaristos (1890), de Eugênio de Castro, tem sido apontada como marco introdutório do movimento simbolista naquele país. Os sentimentos de pessimismo e decadentismo que normalmente se associam ao movimento encontraram boa acolhida em Portugal, dado o sentimento de frustração que vivia o povo português naquele momento, motivado por crises políticas e econômicas e pelas pressões da Inglaterra em relação às possessões portuguesas na África. 
Os principais nomes do Simbolismo português são: 

Na poesia: Eugênio de Castro, com Oaristos (1890); Antônio Nobre, com (1892); Camilo Pessanha, com Clepsidra (1920); 
No teatro: Júlio Dantas, com A ceia dos cardeais (1902). 

Camilo Pessanha: a dor cósmica 

Camilo Pessanha (1867-1926) não participou do processo de implantação do Simbolismo em Portugal, uma vez que, naquele momento, vivia em Macau, colônia portuguesa na China. Apesar disso, é considerado o principal representante do Simbolismo português.
Autor de poemas publicados originalmente avulsos, o poeta só passou a ter algum prestígio após a edição de sua única obra, Clepsidra (1920).
Do ponto de vista formal, sua poesia destaca-se pela musicalidade, pela presença de elipses, sinestesias, metáforas, símbolos, ambiguidades, fragmentação e riqueza de imagens auditivas e visuais.
Os temas são relacionados à concepção pessimista e cética que o autor tinha diante da vida: a mágoa, a dor e a morte.

O texto que segue é o primeiro soneto de Clepsidra. A atmosfera vaga e evanescente do poema dá a medida exata do princípio simbolista de sugerir em vez de falar diretamente, ou, ainda, do desejo de traduzir o impreciso, aquilo a que Verlaine se referia ao dizer "antes de tudo, a música, uma harmonia de sons que faz sonhar". 

Caminho

Tenho sonhos cruéis; n'alma doente 
Sinto um vago receio prematuro. 
Vou a medo na aresta do futuro, 
Embebido em saudades do presente... 

Saudades desta dor que em vão procuro 
Do peito afugentar bem rudemente, 
Devendo, ao desmaiar sobre o poente, 
Cobrir-me o coração dum véu escuro!... 

Sem ela o coração é quase nada: 
Um sol onde expirasse a madrugada, 
Porque é só madrugada quando chora. 

Porque a dor, esta falta d'harmonia, 
Toda a luz desgrenhada que alumia 
As almas doidamente, o céu d'agora, 

(Biblioteca Ulisséia de Autores Portugueses, p. 37.) 


1. O caráter lírico do poema lido advém sobretudo da exposição dos sentimentos do eu lírico. Observe algumas das imagens do poema: "sonhos cruéis", "alma doente", "medo", "saudades do presente", "véu escuro", etc. Como se sente o eu lírico diante da vida e do mundo? 

2. O tempo predominante no poema é o presente, como se verifica pelas formas verbais "tenho", "sinto", "vou", "alumia" e outras. No entanto, na primeira estrofe, o eu lírico faz uma projeção para o futuro, nestes versos: 

"Vou a medo na aresta do futuro, 
Embebido em saudades do presente... " 

a) Que contradição reside nas "saudades" sentidas pelo eu lírico?
b) Logo, o futuro representa uma perspectiva para o eu lírico? 
3. A dor, a angústia e o sofrimento são elementos constantes na poesia de Camilo Pessanha. Não se trata, contudo, de uma dor de natureza amorosa. 
a) Qual é a natureza da dor vivida pelo eu lírico? 
b) De acordo com as idéias do poema, que interpretação pode ser dada ao verso "Sem ela [a dor] o coração é quase nada"? 

4. A poesia de Camilo Pessanha é valorizada pela riqueza sonora e musical e pela originalidade de suas imagens. Tais qualidades podem ser encontradas também no soneto "Caminho"? Justifique.