4 de setembro de 2016

Interpretação do texto Amor de perdição


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Amor de perdição 
Capítulo II
Camilo Castelo Branco 
[...] 

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No espaço de três meses fez-se maravilhosa mudança nos costumes de Simão. As companhias da relé desprezou-as. Saía de casa raras vezes, ou só, ou com a irmã mais nova, sua predileta. O campo, as árvores e os sítios mais sombrios e ermos eram o seu recreio. Nas doces noites de estio demorava-se por fora até ao repontar da alva. Aqueles que assim o viam admiravam-lhe o ar cismador e o recolhimento que o sequestrava da vida vulgar. Em casa encerrava-se no seu quarto, e saía quando o chamavam para a mesa. 
D. Rita pasmava da transfiguração, e o marido, bem convencido dela, ao fim de cinco meses, consentiu que seu filho lhe dirigisse a palavra. 
Simão Botelho amava. Aí está uma palavra única, explicando o que parecia absurda reforma aos dezessete anos. 
Amava Simão uma sua vizinha, menina de quinze anos, rica herdeira, regularmente bonita e bem-nascida. Da janela do seu quarto é que ele a vira pela primeira vez, para amá-la sempre. Não ficara ela incólume da ferida que fizera no coração do vizinho: amou-o também, e com mais seriedade que a usual nos seus anos. 
Os poetas cansam-nos a paciência a falarem do amor da mulher aos quinze anos, como paixão perigosa, única e inflexível. Alguns prosadores de romances dizem o mesmo. Enganam-se ambos. O amor dos quinze anos é uma brincadeira; é a última manifestação do amor às bonecas; é a tentativa da avezinha que ensaia o voo fora do ninho, sempre com os olhos fitos na ave-mãe, que a está de fronte próxima chamando: tanto sabe a primeira o que é amar muito, como a segunda o que é voar para longe. 
Teresa de Albuquerque devia ser, porventura, uma exceção no seu amor. 
O magistrado e sua família eram odiosos ao pai de Teresa, por motivo de litígios, em que Domingos Botelho lhe deu sentenças contra. Afora isso, ainda no ano anterior dois criados de Tadeu de Albuquerque tinham sido feridos na celebrada pancadaria da fonte. É, pois, evidente que o amor de Teresa, declinando de si o dever de obtemperar e sacrificar-se ao justo azedume de seu pai, era verdadeiro e forte. 
[...] 
CASTELO BRANCO, Camilo. Amor de perdição. São Paulo: Ática, 2001.

alva: primeira claridade da manhã. 
cismador: pensativo. 
declinar: eximir-se, recusar. 
ermo: deserto. 
estio: verão. 
incólume: ileso, livre de dano ou perigo. 
litígio: questão judicial. 
obtemperar: obedecer, pôr-se de acordo. 
pasmar: admirar-se de algo. 
relé: ralé; a camada mais baixa da sociedade. 
transfiguração: transformação na maneira de pensar e proceder. 


1. Segundo o texto, que grande transformação o amor provocou em Simão? 

2. O que essa alteração de comportamento revela sobre o novo estado de espírito de Simão? 

3. Leia: 

"[...] O campo, as árvores e os sítios mais sombrios e ermos eram o seu recreio. Nas doces noites de estio demorava-se por fora até ao repontar da alva. [...]" 

O espaço é fundamental em uma narrativa não só porque determina muitas das ações das personagens, mas porque pode revelar seu estado de espírito. Por que os novos espaços por onde circula Simão são coerentes com sua transformação? 

4. Explique o que é, segundo o narrador, o amor dos 15 anos. 

5. Por que Teresa de Albuquerque é uma exceção em seu amor?

GABARITO